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quarta-feira, 8 de setembro de 2010 Post By: Lilah

Quando a Escola é um Pesadelo



Bullying é um termo inglês utilizado para descrever atos de violência física e/ou psicológica, intencionais e repetidos, praticados por um indivíduo (bully - tirano ou valentão) ou grupo de indivíduos com o objetivo de intimidar ou agredir outro indivíduo (ou grupo de indivíduos) incapaz(es) de se defender.

Esse foi o texto mais difícil que eu já escrevi para a coluna. Ele ficou rondando em meu cérebro e se recusando a “nascer”. Talvez por ser um tema que me toque de modo muito próximo.

O Bullying é um problema muito mais comum nas escolas brasileiras do que se pensa. Gordos, magros demais, baixos, altos demais, pobre, negros, deficientes...ou simplesmente alguém que fuja do que o grupo considera normal é vítima de uma perseguição inclemente. Em parte por que vivemos uma ditadura da pasteurização, da homogeneidade, onde todo mundo tem que estar dentro do padrão que a TV e as revistas vendem como sendo o ideal.

E aí você se pergunta por que eu resolvi falar do assunto, justamente no Mãe, sou gay dessa semana. Por que o Bullying contra homossexuais tem um componente diferente do que acontece em outras situações. Primeiro por que o menino ou menina vítima de perseguição por sua orientação sexual na escola, muitas vezes, nem sabe por que está sendo alvo daquela agressão. No caso de meninos afeminados ou de traços e sentimentos mais delicados o bullying pode começar numa idade tão nova que ele nem mesmo formou a consciência de sua sexualidade. E além da pressão do grupo ele enfrenta, quase que invariavelmente, a pressão dos pais para que mude.

Muitas vezes ainda bem pequeno, ele chega chorando em casa, por ter sido xingado ou chega machucado e o que escuta é que “precisa ser homem”, que os outros fazem isso com ele por que ele age “como uma menininha”, isso quando não é vítima da agressão dos próprios pais por ter apanhado na rua e não reagido como homem.

Se o bullying começa na adolescência, além de lidar com todas as questões envolvendo sua sexualidade nascente, ele ou ela lida com a pressão do grupo que o faz sentir inadequado, diferente. E ele não pode pedir socorro os pais. Por que ele teria que dizer o motivo das agressões, e isso pode assustar muito mais do que os socos e pontapés dos colegas de classe. Então esse menino se cala. Fecha-se em seu próprio mundo e pode se tornar de aluno modelo e tranquilo num que inventará mil desculpas para não ir a escola. Escola que não está preparada para lidar com o bullying homossexual e muita vezes joga ainda mais culpa na vitima, acusada de provocar as agressões por seu comportamento fora da norma.

Outra questão extremamente delicada em relação a essa situação é que muitos desses adolescentes se tornam vítimas de abusos sexuais por parte de colegas de classe. Trocam favores sexuais para ficarem livres de agressões mais violentas. Tudo isso muitas vezes com a conivência de professores e diretores que preferem não ver a situação para não ter que discutir a diversidade em sala de aula. Ou até mesmo estimulada por eles, que usam apelidos, fazem piadas e demonstram sua repulsa ao comportamento da vítima,o que só comunica ao agressor que ele pode continuar agindo assim.

Meu filho foi vítima de bullying durante todo o ensino médio. E por dois anos, eu, professora, não enxerguei isso. Eu o vi quieto e retirado, mas achei que se tratava de problemas de adolescente e da própria sexualidade nascente. Eu o vi voltar para casa mancando e com contusões que ele me dizia serem do futebol, da bicicleta, de brigas com os irmãos...E não vi o que realmente acontecia. Só no último ano, depois dele ter contado a nós sobre sua orientação sexual, Lucas falou o que realmente sofria. Na escola, o que ouvi da Coordenadora foi que isso era coisa de meninos. E pior, que eu não devia “incentivar” o Lucas a ser gay. Que ele era novo e nós podíamos “resolver” isso. Que ele devia fazer terapia como um brinquedo quebrado que nós mandaríamos ao técnico para conserto.

Da parte da escola, ainda que disfarçado em preocupação, ficou claro que ele era um incômodo. E que a culpa das agressões era dele mesmo, que não sabia se impor e reagir a altura. Isso depois dele ser vítima de agressão por um grupo de mais de oito meninos. E Lucas luta caratê. Não houve acordo e apesar do prejuízo em seus estudos, em ano de vestibular, nós optamos por transferi-lo para outra escola onde ele terminou o Ensino Médio.

O Bullying é uma violência diária, ele mina a auto estima, a auto imagem e a segurança desses meninos e meninas. Transforma-os em jovens assustados, desconfiados. Se você suspeitar que seu filho está sendo vítima de bullying não espere. Exija da escola uma providência e não aceite argumentos de que isso é só “coisa de criança” e ele tem que aprender a tolerar. Ele NÃO TEM que aprender a tolerar isso! E não se curve a atitudes preconceituosas a respeito da sexualidade dele, denuncie. Não havendo acordo e não sentindo por parte da escola comprometimento com a situação, considere uma mudança. Notas altas, passar de ano, fama da escola, vestibular...nada disso é mais importante que a segurança e a auto estima do seu filho. Não espere. Pode ser tarde demais.

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