Eu não senti você movendo na minha barriga. Não ouvi seu primeiro choro. Eu não embalei você no seu primeiro dente. Não vi seu primeiro sorriso e não repeti um milhão e meio de vezes “mamãe”, só para você dizer “papai” como todos os meninos. Eu não guiei seus primeiros passos e não beijei seus primeiros dodóis. Eu não cantei para você dormir e eu não expulsei monstros de dentro do armário. Eu não levei você no seu primeiro dia de escola, torcendo para você não chorar e ao mesmo tempo me sentindo abandonada se você não chorasse....mas nada disso fez diferença.
Os passos que trouxeram você para minha vida, já tinham pernas firmes. Não havia olhos nublados de alguém recém chegado ao mundo. Imensos e inquisitivos olhos de chocolate e um sorriso raro e desconfiado, que eu precisei conquistar. Eu não ganhei seu amor de graça, só por ser o seio quente e as fraldas limpas. Ah, não....seu amor? Pelo seu amor eu precisei batalhar. Em meses de longos e obstinados silêncios. Num namoro cheio de indas e vindas.
E eu comemorei sua primeira malcriação, como mães comemoram uma nota dez no boletim. Por que você se sentia seguro para ser criança finalmente. Eu esperei, mais do que com os outros três, aquele “mãe” que não saía. E que só veio, quase um ano e meio depois, numa pergunta desconfiada, se eu seria sua mãe para sempre. Mas tinha que ser para sempre. E você virou o bebê da casa, o pirralho, o moleque, o nanico...todos aqueles apelidos que você odeia e seus irmãos adoram usar. E como deve ser difícil chegar numa casa com três surfistas grandões mandando no pedaço.
E eu, que sempre incentivei os filhotes a alçarem seus voos e deixarem o ninho, me vejo querendo segurar você...só mais um pouquinho. Eu me pego sendo “careta” e dizendo não para o piercing que você inventou que queria colocar na orelha. Logo eu, que não só deixei, mas levei o Lipe para sua primeira tatuagem. Eu me pego querendo mais abraços, mais beijos molhados, mais tardes de pipoca e desenho. Mas você está crescendo. E eu, ficando com ciúme dos olhinhos brilhando para a menina bonita de rabo de cavalo e as horas em frente ao espelho procurando pela roupa perfeita.
Quando, daqui a vinte ou trinta anos, alguém me perguntar, das decisões que tomei na vida, qual aquela que jamais me arrependi, a melhor de todas, a mais perfeita, eu poderei responder sem pensar e nem hesitar. Foi o dia que eu disse sim e você se tornou meu...meu bebê, meu pirralho, meu filho.
Saulo é o filho que a vida me deu, ele ainda não lê esse blog por que não tem idade para tudo que a mamãe escreve, mas hoje ele faz treze anos e um dia poderei mostrar a ele o texto que escrevi agora, enquanto ele dorme esparramado no sofá da sala.