Na madrugada de 21 de Junho desse ano, o menino Alexandre Ivo Thomé, de 14 anos, foi espancado, torturado e morto. As investigações apontam como responsáveis um grupo de skinheads que perseguem gays, negros, nordestinos, punks e qualquer outro que não se enquadre em seu ideal de certo e errado.
Eu não sei se Alexandre Ivo era gay. Tão menino, talvez nem mesmo ele soubesse. Mas isso não importou a seus executores, que o torturaram e mataram por que ele se vestia ou parecia “menos macho” do que eles consideravam normal. Alexandre é mais uma das 28 vítimas de homicídios de cunho homofóbico acontecidos somente no primeiro semestre no Rio de Janeiro.
Como a maioria esmagadora de mães no Rio de Janeiro e em qualquer outra capital violenta do Brasil eu me preocupo quando meus filhos vão para a balada. Eu me preocupo com assaltos, arrastões, bêbados ao volante...Mas eu me preocupo ainda mais com pitboys homofóbicos. Eu me preocupo que o caminho do Lucas não cruze com elementos como os que assassinaram uma criança de 14 anos só por que ele não tinha a aparência que eles queriam.
Tramita no Congresso Nacional a PLC 122, que criminaliza a homofobia. Tramita a QUATRO ANOS. Ou melhor seria dizer...enrolam a PLC 122 a 4 anos. Bancadas de fundamentalistas religiosos e direitistas ferrenhos se recusam a votar, emperram o processo, obstruem votações, ignoram a urgência da aprovação. Alega-se de tudo para evitar a aprovação da lei: de que ela é desnecessária até que criará um cerceamento a liberdade religiosa.
Ora, senhores deputados e senadores, meninos e meninas estão morrendo! Morrendo sem nem ao menos terem a chance de descobrir sua sexualidade. Morrendo por que um Estado LAICO ainda tem em suas fileiras um ranço doentio, que mistura religião e política. Consciência pessoal e direito universal. Não me importa a sua religião. Mas as regras de conduta do seu credo religioso, que é seu e não meu, muito menos universal, não pode, sob pena de se romper o princípio da democracia, interferir no meu direito como cidadão de um Estado LAICO.
A PLC 122 não limita liberdade religiosa. Não interfere nas regras de conduta que você, livremente adotou para a sua vida. SUA VIDA. PESSOAL. Não a minha. Não o direito de todos os cidadãos. Que deveriam, por uma questão de justiça, serem iguais para todos. O que ela impede é que, baseado no seu credo pessoal, você ou qualquer outro estabeleça uma campanha de ódio. A PLC 122 não vai fazer com que os versículos da Bíblia que se cauterizaram em seus olhos, sem possibilidade de interpretação, sejam apagados. Mas ela vai impedir que alguém os use para incitar o ódio e a violência contra alguém que apenas ama de maneira diferente da maioria.
Quando você sair no dia 03 para votar lembre que esse é um Estado Laico e que os representantes eleitos estão lá para defender o direito de 190 milhões de brasileiros e não de 2 ou 3 milhões de fiéis dessa ou daquela religião. Lembre-se dos Alexandres, Pedros, Anas e Marias que morrem todos os anos nesse país. Lembre-se das centenas de mulheres que fazem abortos clandestinos em pocilgas sem nenhuma assistência. Lembre-se que vivemos num Estado Laico e que a religião, seja qual for ela, não pode ser um poder no Congresso.