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quarta-feira, 22 de setembro de 2010 Post By: Lilah

Pequenos Direitos



Eu hoje quero falar de direitos negados. Mas eu não vou falar de “grandes” direitos, não vou aqui falar de casamento, adoção, direito de herança...todas essas coisas que muita gente por aí já falou e muito melhor que eu. Esses direitos, que são importantes, estão na pauta de muitas discussões, eles parecem gritar por solução e até você e eu, que podemos não fazer parte desse universo, entendemos a necessidade de brigar por eles. Hoje eu quero falar dos “pequenos” direitos, que são todo dia violentados. E que talvez, você, assim como eu, muitas vezes nem percebe que está contribuindo para isso.

Eu quero falar do menino e da menina que não podem andar abraçados na rua. Que não podem beijar. A quem não é permitido chorar as mágoas no colo da mãe. Do direito simples de dizer a alguém esse é meu namorado, essa é minha namorada e ouvem o doloroso “amigo” com aspas de dedinho como diz a @patriciadaltro em seu conto. Eu quero falar do transgênero a quem é negado o direito do uso do nome social. A quem não é permitido o uso do banheiro do sexo que ele sente pertencer de verdade.

Quero falar do adolescente que olha para tv e não se reconhece nela. Que tem uma aula de biologia, de educação sexual e não escuta falar dos seus desejos, da sua biologia. Desse jovem que não tem um modelo de sexualidade saudável por que sociedade se recusa a enxergá-lo e empurra seus desejos para o gueto dos banheiros de shopping e dark rooms de boates. Eu quero falar do menino a quem você, mãe, não se preocupou se seria fisicamente machucado na primeira relação sexual, por que vocês não conversaram sobre isso.

Eu quero falar com você, que acredita realmente não ter preconceito, mas nunca pensou nisso como direitos negados. Que nunca percebeu que esses meninos e meninas crescem num mundo onde não são enxergados. Onde suas dúvidas e desejos não tem eco. Para você que acha que as crianças não devem ver e nem saber disso. E, quando pensa por que, nem consegue formular uma resposta.

Eu quero falar com você pai ou mãe que lutou para entender seu filho e nem percebe que ele ainda tem esses pequenos direitos negados. A você que permite que a namorada de um filho durma em casa, mas não faz o mesmo com o namorado do outro filho. Que não vê nada demais se os primeiros deitam no sofá para ver TV e não percebe que o outro precisa de portas fechadas para a menor manifestação de carinho. E, não percebe que isso continua comunicando ao seu filho, que o amor dele é menos importante ou menos bonito.

Quero falar com você que pede ao seu filho para ser discreto e não percebe que está dizendo a ele que você tem vergonha de quem ele é. Que não conta a verdade a amigos e família e não vê a decepção nos olhos dele ou dela. A você que não disse “me orgulho de você” e nem olhou como ele continua buscando a sua aprovação. Das férias em que você levou as namoradas dos filhos e ele precisou ficar sozinho....por que não pegaria bem com os vizinhos da casa de praia.

De cada vez que, ele ou ela, quis contar para você do carinha que não deu bola ou da menina bonita no trabalho, mas sabia que você não gostaria de ouvir. Das vezes que ele quis chorar em colo de mãe o fim do primeiro namoro, ou aquele xingamento doído que ouviu na rua. Mas calou. De todas as vezes que ele suportou calado a agressão e o deboche dos colegas de escola, escondendo machucados, por que se alguém soubesse ainda diria que é culpa dele. Por que a escola também não virá em seu socorro.

Muitos de nós nem percebem esses pequenos direitos roubados a cada dia. Eu nunca percebi até que eu vi todos eles roubados do meu filho. Até que eu me vi fazendo muitas das coisas, que eu nem percebia que podiam machucá-lo. Eu não enxerguei até o dia em que o vi saindo da sala, para poder dizer oi decentemente ao namorado. Ou até que o vi de olhos compridos para o irmão e a namorada deitados no sofá, enquanto ele parecia ter apenas um parceiro de futebol sentado ao lado. Eu não olhei como vergonha quando não contei a avó, num intuito idiota de proteger sei lá quem, de sei lá o que. E não vi seus olhos magoados por que eu o escondia da família, como um segredo vergonhoso.

Essa é uma luta diária. Não se constrói grandes coisas, como o direito ao casamento ou a adoção, sem que a sociedade comece a exercer diariamente esses pequenos direitos negados. Nada vai mudar até que mude na sua casa, na sua vida, na sua escola, rua ou bairro. Até que mude em VOCÊ. Ate que se saia do gueto e apareça nas ruas, na TV e nos parques. Por que é muito mais fácil odiar o que não se conhece.

Na Parceria da semana Da Negação do Direito de Existir, do meu parceiro e amigo @AndreV_

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