Sempre achei estranho que, para dirigir, exijam curso, testes psicológicos e práticos e uma licença nacional e para ter filhos não precisa de nada disso. Quer dizer...colocam um bebê no colo de alguém que não sabe nem de que lado é a frente e de que lado fica as costas e esperam que tudo dê certo. Depois não sabem por que tanta coisa dá errado...
Nossas avós cresceram em famílias enormes, cercadas de irmãos e sobrinhos, primos e agregados. Em algum momento, bem cedo na sua vida, tiveram um bebê no colo e aprenderam na prática e na observação o mundo não tão maravilhoso de fraldas, mamadeiras, chupetas e banhos. Nossas mães cresceram em famílias menores, mas ainda assim sempre tinha alguém para lhes apresentar esse mundo. Nós crescemos na era das babás. Com crianças criadas por empregadas, professores, instrutores de balé e karatê. Não se esperava que nos "contentássemos" em criar bebês, mas tinhamos que fazer isso e ao mesmo tempo ser a esposa sexy, a empresária de sucesso, a amiga antenada...
Ser mãe aos dezesseis foi uma loucura. Mas, ainda que eu tenha tido o apoio da família, sempre ficou claro que era minha responsabilidade. Minha mãe, que tem um ditado para tudo na vida, costumava dizer que "pé de galinha não mata pinto", o que era um jeito divertido de dizer "segura que o filho é teu". Para o Lipe isso significou algumas assaduras a mais e um caso que virou folclore na familia. Ele tinha cerca de um ano e nós morávamos no Catete, pertinho do Aterro. Eu costumava levá-lo no fim da tarde para brincar no parquinho na área de lazer, num tempo em que ainda era possível fazer isso no Rio de Janeiro. Então, numa dessas tardes, ele brincava no tanque de areia com mais dois ou tres bebês da mesma idade. Fazia calor e eles todos estavam só de fraldinha (isso é importante para a minha defesa...rsrs).
Meu ex marido, na época ainda marido, chegou apressado por que o carro estava parado em lugar proibido...levantei irritada e fui catar o Lipe, que continuava inocentemente brincando na areia...e saí de lá com o bebê errado debaixo do braço! Eu andei alguns metros até que a mãe do bebê raptado me caçasse aos berros. Um dos momentos mais vergonhosos da minha vida! Felizmente o Lipe continuava lindo e inocente dentro do tanque de areia.
Eu ainda considero um milagre ter criado três meninos saudáveis, sem que nenhum caísse de cabeça do berço. Talvez isso explique por que todos três cresceram independentes e auto suficientes. Mas, às vezes sinto que perdi algumas coisas. Passei por cima de momentos que podiam ter sido divertidos por que estava tentando manter a sanidade e ao mesmo tempo crescendo junto com eles. Somos grandes parceiros temos uma relação que muitos dos amigos deles invejam, mas sinto que os apressei em direção a maturidade por que estava ansiosa, assustada e precisando que eles crescessem. Não lembro de mandar Lipe estudar, Victor comprou seu primeiro video game aos 11, com dinheiro economizado da mesada e Lucas nasceu com 20 anos.
Quando comparo isso com o que tenho agora com meu caçulinha vejo o quanto é diferente. Saulo chegou quando eu tinha 36 anos. Ele me teve muito mais tranquila, muito menos ansiosa e estressada. Mais à vontade com joelhos ralados, braços quebrados e birras infantis. Eu tive mais tempo para sentar no sofá e ver desenho animado, comendo pipoca, para ir a reuniões de escola, repassar a lição de casa e ensinar a andar de bicicleta. Eu pude deixá-lo ser criança mais tempo por que eu já não era.
A maternidade adolescente é assustadora, emocionalmente desgastante e vira o mundo de cabeça para baixo. Nós invertemos o ciclo natural da vida e não só as mães e pais sofrem, mas os filhos desses pais acabam perdendo também. Perdendo a chance de pais maduros e mais preparados. Menos ansiosos e estressados. Às vezes a gente tem sorte e tudo dá certo, mas eu não recomendo a ninguém.