Na coluna da semana passada o Cadu comentou da sua experiência ao contar sobre sua sexualidade à família e os receios que ouviu desses familiares, no sentido de que não se tornasse afeminado ou travesti, ou ainda que não desse "muita pinta". E ele me perguntou como eu lidaria com essa situação. Eu respondi e você pode ler
aqui o diálogo, mas pedi também que ele me permitisse usar o tema para a coluna dessa semana.
Uma coisa que eu escuto com bastante frequência, inclusive de homossexuais, é que não existe necessidade de "esfregar na cara de ninguém a sexualidade". Isso, muitas vezes vem acompanhado de um discurso que prega um comportamento discreto, reservado e que recrimina aquele homossexual que se expressa através de um viés mais feminino. Mas o que é esse tão decantado comportamento "discreto"? Seria negar a expressão do afeto? Não beijar nem andar de mãos dadas na rua para não ferir a sensibilidade alheia? Agir, falar, andar e exercer papéis viris, baseados na cultura da heterossexualidade, como forma de não aparecer, de sumir na multidão e então ser aceito? Usar um vocabulário masculino, frear seus gestos?
E desde quando isso é ser aceito? Vivemos hoje um momento definitivo no movimento GLBT, a midia vende uma suposta naturalidade frente a homossexualidade e tenta convencer que é desnecessário se mobilizar ou buscar conquistas e que quem se organiza e luta é só um "bando de desordeiros que querem mais direitos que os outros, tratamento especial". Nas novelas o casal gay retratado não se beija, não se acaricia, não diz eu te amo....vivem como amigos que compartilham uma casa. Veja! Eles são aceitos por que não chocam ninguém, por que sabem se comportar, por que não agridem ninguém com sua linguagem, seu gestual. Por outro lado, o gay afeminado é sempre estereotipado, fofoqueiro, agressivo, não confiável. O travesti só aparece em notícias policiais ou como "avis rara" em shows de horrores.
Vivemos a ditadura do gay macho! Seja gay, mas seja homem. Ou mais precisamente, seja gay, mas fale, aja e se comporte como heterossexual, por que o problema não é ser gay é parecer gay! Misture-se ao plano de fundo, seja absorvido pela maioria e pare de incomodar meu preconceito! Não me faça olhar para você e ver o diferente, me deixe continuar imaginando uma sociedade pausterizada, homogênea. E o mais triste é que isso é real dentro da comunidade GLS. Vejo meninos afeminados (ainda vou escrever um texto só sobre esse termo!) sendo vítimas de preconceito dentro da própria comunidade. Nas baladas a busca é pelo mais viril, ou pelo menos mais viril que eu, por que eu não quero ser visto com aquele carinha mais frágil e menos na moda. Nega-se a própria cultura GLS, construída com esforço, por que o jovem não quer "dar bandeira", não quer ser "pintoso".
Eu entendo o medo da família. Tem-se medo do descrédito e da chacota. De ver seu filho ou irmão ridicularizado, agredido. Os papéis de gênero na nossa sociedade são fortemente marcados desde o nascimento. Existe uma carga de atos, gestos e comportamentos que são esperados de meninas e meninos e tudo aquilo que foge ao padrão é motivo de deboche e pressão. Meninos não choram, meninas não jogam bola, meninos crescem e viram bombeiros ou mecânicos ou advogados, nunca professores primários, babás ou manicures. Meninos devem ser fortes, brutos, sexualmente agressivos. Meninas devem ser doces, sensíveis e sexualmente reservadas. Um menino que fuja a esse padrão, mesmo que seja heterossexual, passará a vida vendo sua sexualidade contestada.
E o que fazer quando seu filho não se encaixa no molde que o mundo vendeu? Eu não acho que você precisa negar seus medos, fingir que eles não existem não vai fazer com que a relação seja melhor. Seja franco, diga que você está sim lutando para entendê-lo, para aprender como ele sente e vê o mundo. Mas não esqueça de dizer que isso não muda o que você sente por ele. Você pode nunca entender os motivos ou as razões que o levam a ser de um jeito ou de outro, e ele não precisa que você entenda, ele precisa sim saber que é amado, que você tem orgulho de suas realizações independente da forma mais ou menos feminina com que ele se expressa.
PS: É impossível esgotar esse assunto em uma coluna, se você tem algo a compartilhar, uma opinião sobre o assunto ou um novo ângulo para ser abordado, comente. Prometo que voltaremos ao assunto em breve.
PS2: Iniciando uma parceria muito legal, leiam um contracanto a esse texto no
Mauricidades do meu amigo íncrivel,
@AndreV_ e sigam no twitter, vale muito a pena