Da Ausência de Limites
Ontem de manhã cinco jovens de classe média, entre 16 e 19 anos, atacaram três outros jovens na Av. Paulista. Usando lâmpadas fluorescentes como bastões, eles espancaram um jovem até que ele desmaiasse e feriram mais três no seu ataque de fúria. A polícia investiga se a motivação foi homofobia, mas nesse momento eu nem quero discutir isso. O que me choca e assusta é o discurso dos pais desses jovens.
Com um rapaz internado e mais dois feridos e uma acusação de roubo além da agressão, o discurso desses pais é de que seus filhos são vítimas. Eles não são marginais!Eles estudam! Eles tem pais! Eles foram provocados e tiveram uma atitude infantil! E depois de uns dias na Fundação Casa, eu acredito que esses garotos serão recebidos em casa com honras de heróis. Serão mimados e se reforçará a ideia de que agredir pobres, ou negros, ou gays não é assim tão grave. Afinal quem são essas pessoas para estar no mesmo espaço que eles, filhos nobres da classe privilegiada desse país?
Assusta-me muito esse discurso. Por que ele cria marginais. Ele propaga o preconceito. Mas antes disso é preciso pensar como esses jovens chegaram a esse ponto. Eles são um reflexo de um geração sem limites. Criada para acreditar que o mundo lhes deve algo. Com pais que abriram mão de sua posição de educadores e não aprenderam a dizer não aos filhos. Pais que substituem carinho por bens materiais, roupas de grifes e carros de marca. Que estão tão envolvidos em ganhar mais e mais dinheiro que esquecem de "perder" tempo para olhar o filho.
Eu tenho quatro meninos. Filhos da classe média também. E muitas vezes eu me preocupei com as companhias, com os lugares que eles frequentavam e com a ideologia que via ser propagada entre a turma deles. Eu sempre quis ser e sou amiga dos meus filhos. Sempre quis que eles pudessem conversar comigo sobre qualquer assunto. Mas jamais abri mão do meu lugar de mãe. Nunca esqueci que a responsabilidade de educar era minha. E que isso incluía frustrá-los muita vezes. E, às vezes, isso se reflete em coisas pequenas mas muito importantes. Como vender um vídeo game quando eles tinha 13, 11 e 8 anos por que os três quebraram as janelas da casa do vizinho e tinham que pagar. Ou dizer não, você não vai a festa por que eu não confio nesse lugar. E aturar as caras feias e os silêncios zangados em retorno.
Essa geração abriu mão de cuidar dos seus filhos e relegou essa responsabilidade a babás, escolas, professores... Mas os filhos sabem que estão sendo ludibriados. Eles sentem isso. E crescem sem limites, sem aprender a ouvir não e achando que o mundo está ali para servi-los. É de se estranhar que acreditem que não há nada de mais em bater em quem por algum motivo não fez ou não parece com o que ele quer?
Ai Lilah...
às vezes eu tenho medo do mundo que estamos criando, viu?