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domingo, 23 de janeiro de 2011 Post By: Lilah

Da Onipotência Materna



Queria voltar para o tempo em que eu podia curar suas dores com sorvete de chocolate. E suas lágrimas só tinham a duração de um joelho ralado. Onde seus sorrisos estavam a um boné novo de distância. Naquele tempo mágico em que mãe sempre sabia um jeito de resolver tudo.


Eu queria ter as respostas que faziam seus olhos brilharem. Mesmo quando tudo que eu tinha a dizer era pura fantasia. Por que vocês conseguiam acreditar. E crendo, vocês esperavam que o mundo sempre fizesse sentido. Eu queria de volta o tempo em que vocês curavam seus medos enrolados no meu colo. E que eu expulsava monstros só acendendo a luz do quarto. A vida era mais simples, não?


Por que vocês precisam crescer? E por que crescer precisa doer tanto? Não bastam as dores dos dentes nascendo? As intermináveis noites em claro com cólica? Não foi meu limite aquela cirurgia de apêndice? Não tem como negociar com esse tal de tempo? Eu preciso explicar para ele que não vale a pena crescer se tem que ser com tanto sofrimento.


Eu queria de volta as preocupações com notas na escola. Os dias de castigo pela vidraça quebrada. Quero reclamar dos armários desarrumados e dos tênis esquecidos na sala. Quero que minha única dúvida seja se tem pudim suficiente para todos e de quantas horas cada um tem de tempo no computador. Não quero pensar em dores que eu não posso curar ou sonhos que eu não posso impedir de serem quebrados.


Eu quero enlouquecer no shopping em busca da camisa perfeita. Mesmo achando todas elas iguais. Só pelo sorriso na hora do lanche. Quero discutir de novo e de novo quem vai na janela do carro. E brigar de novo por que no banco da frente não pode. Quero que toda cara feia e desgosto seja pelos legumes no prato. E que todo desespero na noite seja pela prova do dia seguinte que não se estudou o suficiente.


Quero que os risos venham só com o vento, e o mar, e a correria na praia, caindo juntos em um montinho colorido na areia. Quero que as reclamações sejam só pelo puxão de cabelo ou o último biscoito não dividido. Quero que tudo acabe em pizza, literalmente. E com vocês espalhados no chão, disputando quem come mais.

Mas vocês crescem. E já não existe biscoito ou sorvete que console lágrimas. E nem existe colo que posso garantir sonhos. Já não existem monstros que fujam só com um clic do interruptor e não existe camisa perfeita que cure um coração quebrado. Vocês crescem e a gente perde a onipotência materna. Resta só sentar e torcer. Que todos aqueles anos tenham dado a vocês passos firmes e a certeza de para onde voltar. Por que no fim é só isso que podemos ser. Um lugar pra voltar.



  1. Ai, meu deus, que medo do futuro! eu ainda estou na fase em que posso resolver quase uso, salvá-los de quase todos os males. Que medo do dia em que nã puder mais ser a solução. Gostei, apesar do medinho que me deu!

  1. Quanto coração nesse texto. Mas tenho certeza que os teus 2048390849304 filhos são muito felizes e sofrem muito menos do que poderiam porque tem uma mae especial como tu.
    A gente cresce a algumas dores mudam de formato, mas em quase todas elas (desde o joelho ralado da infância) só nos resta contar com o tempo e com o carinho de mãe.
    E o segundo eles tem de sobra.
    Gosto muito de te ter na minha timeli(f)e

  1. Oi Lilah!

    No sábado, escrevi uma homenagem pelo aniversário do meu caçula, o Rô, e falei um pouco disso, do futuro que sempre nos espera, do dia em que eles irão sair de casa para o mundo! E é realmente assustador, como quando o bebê sai da nossa barriga e a gente pensa: Agora vc não está mais protegido dentro do meu ventre! Por isso curto a infância deles como se fosse meu último instante de alegria!

    Belo texto!

    Bjs

  1. Anônimo

    Senti como se estivesse nesse texto. Nem preciso dizer que chorei rodos aqui!

    Se cuida!

    Beijos

    Kel

  1. Texto lindo

    Só passa por isso quem teve a felicidade de mãe ser...Curta cada instante porque

    é bom demais se Mãe!!!!!!!!

  1. Apesar dos pesares tudo sempre vale a pena ou não teríamos mais um e outro e outra. Que o diga Lhaminha que com certeza está chegando no lugar certo na hora exata.
    Bjo grande, Lilah! ((*..*))

  1. Lilah, seu texto me fez chorar... Não só pelo medo do futuro, já que meu pequenino a cada dia torna-se mais pássarinho querendo alçar vôos próprios, mas principalmente, pela minha filha postiça, que decidiu seguir rumo ao abismo e recusa-se a aceitar minha mão...
    Enrgaçado que hoje escrevi sobre isso, no entanto, optei por ainda não publicar em post...

  1. Minha nossa, quanta verdade, quanta emoção, quanta saudade deste tempo em que éramos a solução de todos os problemas, e que nosso colo curava todas as mágoas e feridas. Amiga sempre digo, construi um ninho, saem, voem alto, arrisquem-se, vivam, mas quando doer voltem e pousem aqui entre meus braços, não poderei curar todas as dores mas com certeza sempre as tornarei mais brandas. E no ninho de meus braços sempre encontrarão consolo.
    Ser mãe eternamente.
    Beijos querida

  1. Só nada, esse lugar é TUDO o que precisamos quando as coisas ficam ruins demais e nos sentimos fracos e desesperançados... Você me levou as lagrimas, sinto falta de quando bastava chamar mainha e tudo se resolvia...

  1. Este comentário foi removido pelo autor.
  1. Lilah tenho certesa que vc escreveu esse texto vendo minha alma, to perdidinha por não conseguir resolver todos os problemas dos meus filhos que ja são pais e que por alguma rasão estão mais perdidos que eu e não tenho como resolver pq um deles não quer, obrigada pelas lagrimas e pela certesa de que assim que ele aparecer vou acolhe-lo nos meus braços com mto carinho e tentar curar a dor que ele está sentindo, bjos

  1. Lilah, creio que isso ocorre a todas as mães, mas posso te garantir que a muitos filhos também, eles gostariam de não ter crescido, não por fugir das responsabilidades, mas por depois de crescer passar a ver o mundo com outros olhos e acabamos por perder grande parte da alegria e da felicidade que existem nas pequenas coisas, passamos a ver problema em quase tudo, fazemos tempestade em copo d'água, complicamos nossa vida, ficamos duros e insensíveis, há momentos em que um sorriso nos custa muito, diferente das crianças. Tento manter meu espirito infantil, mas são tantas cacetadas, tombos, tropeços, e nessas horas tudo acaba sendo maior e pior do que realmente é, e esquecemos do tempo onde grandes preocupações para nos eram as que você relatou acima, porque os problemas e frustrações crescem desproporcionais ao nosso desenvolvimento físico, ou nós o fazemos assim? Sempre me faço essa pergunta mas ate hoje não encontrei a resposta. Um grande abraço.

  1. Lilah, confesso que estou na fase do "lugar pra voltar", que saudade da minha onipotência, são tempos que não voltam mais, por isso, tem que ser bem vividos.
    Beijos

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