A Arte do Perdão
Quando os meninos eram pequenos, nós tínhamos uma regra em casa: ninguém vai dormir sem pedir desculpas. Eles podiam ter ficado de castigo ou ter batido portas durante o dia, mas na hora de dormir tinham que fazer as pazes. E eles não gostavam muito disso, por que meninos odeiam pedir desculpas. Mesmo quando erram. E faziam meio que por imposição, meio que para ganhar sobremesa. Claro que não era a melhor das minhas idéias, mas eu queria mesmo que eles aprendessem que pedir desculpas é importante. Mesmo que a gente não goste. Só que remorso não se ensina.
E não gosto do conceito de culpa, sempre me parece muito ligado a valores arcaicos e que só servem para fazer você ficar parado, engessado e se remoendo. Acredito em se assumir a responsabilidade pelas consequências dos nossos atos. E acredito que assumir essa responsabilidade deve ser proativo. Deve nos levar para frente, nos fazer tomar atitudes melhores, aprender com os erros. E parte disso inclui pedir desculpas, fazer as pazes, voltar e refazer pontes que foram queimadas no caminho. E é um movimento dolorido. Por que você volta para um lugar magoado, uma pessoa queimada e que tem motivos de sobra para te olhar de maneira desconfiada. E daí que todo mundo sempre pensa no ofendido. E quase nunca no ofensor.
Quem magoa também carrega um fardo. Também fica com aquele pedaço de história entalado na garganta e sem saber direito como deixar para trás. E muitas vezes pedir desculpas nem é problema. Ser desculpado, perdoado e esquecido começa a ser mais simples que perdoar a si mesmo. Quando você se vê frente a frente com a certeza do erro, quando você deixa de olhar a situação do ponto de vista intelectual e começa a sentir...aí é que fica difícil. E você finalmente aprende o que é remorso. E remorso é uma droga. É um sentimento que aperta, que dói.
É piegas um texto desse chegando perto do Natal. Mas também é uma ótima época do ano para ser piegas por que você joga tudo na conta da Melancolia Natalina! Ser perdoado de algo ruim é o primeiro passo para apagar o remorso. O segundo é perdoar a si mesmo. E seguir em frente, zerar as contas. Escrever outra historia. Aproveite a licença que o Natal nos dá de ser piegas...quantas pontes você queimou? Quantas ainda dá tempo de reconstruir? Peça desculpas se precisar, desculpe a si mesmo. Perdoe seus enganos. E comece o ano zerado. Faz um bem enorme.
To emocionada Lilah.
Excelente texto.
Parabéns.