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quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011 Post By: Lilah

O 16° Poste



Trinta e sete anos atrás, o Recreio era pouco mais que um monte de mato e alguma areia, no fim da Pedra do Pontal, zona Oeste do Rio. Meu pai havia acabado de comprar nossa casa e eu era a última das filhas a ingressar na escola. Lembro que eu estava ansiosa pelo primeiro dia de aula, depois de anos vendo minhas irmãs naqueles uniformes que eu achava lindo, irem para escola enquanto eu tinha que ficar em casa.

Minha boa vontade com a escola acabou no primeiro dia. Tínhamos apenas um carro, que meu pai usava para trabalhar e não cabiam cinco meninas. Ônibus era coisa rara no Recreio (ainda é!) e minha mãe achava um desperdício pagar um transporte por 10 minutos que podiam ser feitos a pé. O Colégio ficava perto de casa. Perto para um adulto. Para mim aos 6 anos, aquelas poucas quadras pareciam infinitas. E lá ía minha irmã Luciana, a mais velha dos cinco eles (todas as meninas tem nomes começados por L), arrastando uma Lilah de tranças e cara emburrada.


Eu fazia todas as manhas possíveis e algumas inimagináveis para ser carregada no colo. E algumas vezes eu vencia, só por que do contrário íamos chegar atrasadas e Luciana teria que explicar para minha mãe por que levamos 45 minutos num caminho de 10. Então um dia ela me propôs um jogo. Ela duvidou que eu pudesse correr mais rápido que ela até o primeiro poste depois do portão de casa. Você tem que ser a caçula de cinco, sempre menor, sempre perdendo, para entender a minha necessidade de vencer aquele desafio. E eu corri. E ela me deixou ganhar. E aí eu queria ganhar de novo. E corri até o segundo poste. E dezesseis postes depois eu estava na escola. Suada, esbaforida e despenteada. Mas vencedora.


Eu repetiria isso várias vezes. Mesmo depois que entendi que era só um jogo e já era muito grande para correr de tranças ao vento. Eu nunca pensava no poste número 16. Eu só olhava o primeiro poste depois do portão. E então o próximo depois dele. Naquele primeiro dia que corri, Luciana me ensinou mais que simplesmente andar até a escola sem fazer manha. Ela me deu 16 sensações de vitória. Pequenas vitórias que eu não precisava esperar um tempo infinito em minha mente infantil, mas estavam ali, um poste de distância apenas.


A gente costuma mirar apenas aquela meta final, quase sempre tão distante e inalcançável que quase desistimos antes mesmo de começar: os 20kg a menos, a aposentadoria dali 20 anos, os 3 anos que faltam para juntar dinheiro para um carro novo... Mas os 20kg são perdidos grama a grama, semana a semana. A aposentadoria vem depois de inúmeros (e divertidos) fins de semana e o dinheiro só pode ser guardado, uma moeda de cada vez. Estabeleça metas de curto prazo. Dê a si mesmo várias sensações de vitória: a cada dia, semana ou mês. E quando você perceber, o 16º poste vai estar ali na sua frente, pronto para ser conquistado.





  1. Que texto lindo!!! Trouxe me lembranças da minha infância!!! Bons tempos aqueles que tudo era grande demais, longe demais!!!
    E que lição nos mostrou!!! Metas curtas para grandes conquistas!!!
    Amei!!!
    Beijos
    Adriana Balreira

  1. Lilah,
    Belos ensinamentos não? Adorei a imagem que nos passou nesse texto.
    Bjs

  1. Que bela analogia sobre cumprir pequenas metas para alcançar o objetivo. Sua irmã ensinou da maneira mais simples e eficaz para que você aprendesse e carregasse isso para sua vida.

    Bjão

  1. eu amei esse texto. de verdade. hj mesmo ainda falamos sobre isso, minha ex-terapeuta e eu. QUE LUVA esse texto pra mim. bjbj

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