Não cobiçarás...
Traição. Chifre. Dá arrepio só de ver essas palavrinhas escritas? É um tema normalmente debatido com paixão. Existem os que são absolutamente radicais no assunto, seja para dizer que jamais perdoariam uma traição, seja para defender o direito a ser “fiel só a si mesmo”.
Eu não tenho a pretensão de convencer ninguém com esse post. Até por que coração é terra que ninguém conhece e nesses assuntos cada um tem sua própria maneira de enxergar, mas com o assunto fervendo na net, eu não podia deixar de comentar também.
O que é traição? Onde fica delimitada a fronteira do que é ou não trair? Beijar é trair? Dá para trair sem fazer sexo? Traição é tudo uma coisa só ou existem níveis? Quem é responsável na traição?
Pois é, muitas perguntas e eu aposto que se eu as fizesse a dez pessoas, teria dez respostas diferentes. Para mim, antes de tudo, fidelidade é um acordo entre partes. Um contrato digamos assim, onde eu e meu parceiro estabelecemos, de maneira mais ou menos explícita, o que estamos dispostos a ceder de nossos desejos e corpos, um ao outro. E acredito que isso varie imensamente de um casal para o outro.
Conheço casais onde uma fantasia verbalizada, com Brad Pitt por exemplo, geraria uma discussão interminável. E outros, para quem uma rápida aventura, nem entra no catálogo de preocupações. E não vou aqui dizer quem é mais feliz ou mais respeitoso, por que não me cabe julgar o que trabalha para a relação do outro.
Eu acredito que num relacionamento de longa duração (e sou casada a vinte e dois anos), mas do que fidelidade física, precisa haver fidelidade emocional. Cumplicidade. Metas e ambições comuns. Bom humor. Respeito. E antes que digam que sem fidelidade absoluta não há respeito, eu vou dizer que sem sinceridade e comprometimento não há respeito.
Então, sim, na minha cabeça é perfeitamente possível que haja traição sem sexo e sexo sem traição. Por que trair é quebrar o pacto estabelecido entre os parceiros. Se esse pacto diz, mesmo que implicitamente, que uma aventura pode acontecer, então não, não existe traição. Não houve quebra de pacto.
Quanto a questão da responsabilidade eu sou radical nesse assunto, desculpe. Nem precisa concordar comigo, mas tente acompanhar meu pensamento. Quem me pediu em casamneto, subiu no altar e me jurou fidelidade foi meu marido. Quem estabeleceu comigo as “regras desse pacto” foi ele. Eu não chamei as mulheres do universo inteiro, para me jurarem fidelidade e garantirem que meu homem estava fora do mercado e jamais seria tentado por elas. Então, elas não me devem nada, muito menos explicação. Ele sim. Para mim a responsabilidade de uma possível traição recai nos ombros dele e não de Maria, Joana ou Tereza que ele por acaso tenha encontrado, por que nenhuma delas me jurou nada.
E quando falo de responsabilidade por favor não confundam com culpa. Culpa é um sentimento destrutivo e que eu procuro manter fora da minha vida. Eu acredito que só existe uma terceira pessoa, se existe espaço emocional na relação para que ela ocupe. É física, caros colegas. Dois corpos não ocupam o mesmo espaço, nem mesmo o mesmo espaço afetivo.
Ah, mas existem os traidores compulsivos. Os viciados na adrenalina. Os que vivem casos em série e não tem coragem de romper com o namoro ou casamento, usando sabe-se lá qual desculpa. Não é desse tipo de cafajeste (tem feminino de cafajeste?) que eu estou falando. Falo de quem, um dia, de repente se vê atraído ou envolvido com outro. De quem sabe que sexo é uma coisa e amor é outra. Se der para ter os dois juntos, fabuloso, mas que não são siameses ligados pela barriga.
O que vale aqui, pelo menos para mim, é uma pergunta simples a se fazer antes de tomar a atitude: estou quebrando um pacto que assumi, vou magoar meu parceiro(a) ao fazer isso? Se a resposta for não, onde está a infidelidade? Se for sim, então é melhor repensar, ou estar pronto para colher o que plantar.